Tour du Mont Blanc - Paulo Miranda

TOUR DU MONT-BLANC França-Itália-Suíça setembro.2015

TOUR DU MONT-BLANC França-Itália-Suíça set.2015

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Courmayeur » Refúgio Bonatti

6º dia: 07/09/2015

Às oito da manhã do dia sete de setembro já estava nas escadarias da igreja de Courmayeur. Do outro lado da rua, bem em frente à igreja, se encontra a Società delle Guide Alpine di Courmayeur, a famosa companhia de guias de alpinismo da Itália, cujo prédio foi construído pelo Duque de Abruzzi (1873-1933), um dos grandes montanhistas da história.

A TMB sai de Courmayeur e sobe o Val Sapin por uns 50 minutos para, depois de atravessar o rio, subir os mais de 700 metros de altitude que separam a cidade do Refúgio Bertone(1). É uma longa, porém agradável subida, com brechas, aqui e ali na floresta, que permitem ao caminhante admirar a cidade cada vez mais distante.

De Courmayeur até o refúgio, localizado a 1.989 metros de altitude, foram duas horas e quarenta minutos de caminhada. Logo depois do refúgio, a TMB sobe a 2.125 metros de altitude - onde a variante pelo Mont de la Saxe e Col Sapin bifurca-se à direita - para, depois de uma longa e imperceptível descida, atingir os 2.025 metros de altitude do Refúgio Bonatti, o que faz desse trecho da TMB um verdadeiro passeio no parque.

Em termos de paisagem, o trecho que vai do Refúgio Bertone até o Grand Col Ferret, fronteira ítalo-suíça, tem, como pano de fundo, toda a grandeza do lado italiano do maciço do Monte Branco: é uma sequência impressionante de picos e agulhas e contrafortes e geleiras separados da encosta por onde passa a TMB pela profunda calha do Val Ferret, uns 500 metros verticais abaixo da trilha. E foi com esse cenário ao meu redor que continuei a caminhada, sem pressa, parando com frequência pra admirar picos que ultrapassam os 4.000 metros de altitude. A trilha, à medida que avança pelas encostas do Mont de la Saxe, contorna pequenos vales e esporões que formam um belo contraste com as montanhas do outro lado do Val Ferret.

Às 3 da tarde cheguei ao Refúgio Bonatti(2), que mais parece um albergue da juventude suíço de tão confortável. Já devidamente instalado, meio alimentado e acompanhado por uma caneca de cerveja, fui para as mesas externas pegar sol e admirar as montanhas, principalmente o Grandes Jorasses(3), bem em frente ao refúgio. Ao longe, se destacava o Monte Branco e ainda mais além, o Col de la Seigne.

Agora era só esperar pelo jantar... que foi quase uma degustação de tão gostoso: depois da sopa (entrada), o prato principal foi purê de batata, presunto cru e cozido de berinjela com abobrinha. Pra finalizar, salada de fruta. Tudo caminhava para que a estadia no Refúgio Bonatti fosse perfeita, mas... a Lei de Murphy é implacável: em um dormitório enorme, com umas 30 pessoas, tive como vizinho de cama um cara que roncou, alto, a noite toda. Resumindo: praticamente não dormi.

Estatísticas (GPS)

local hora km
Courmayeur (igreja) 8:14 12
Refúgio Bertone 10:54/11:29 *
Refúgio Bonatti 15:05

* chegada/saída

  1. Este refúgio homenageia um alpinista italiano - Giorgio Bertone - que morreu no Monte Branco em 1977.
  2. Em homenagem a Walter Bonatti (1930-2011), um dos maiores alpinistas de todos os tempos.
  3. Essa montanha, na realidade, é uma crista pontuada por seis cumes: Pointe Walker (4.208 m), Pointe Whymper (4.184 m), Pointe Croz (4.110 m), Pointe Margherita (4.065 m), Pointe Hélène (4.045 m) e Pointe Young (3.996 m). Os dois pontos mais altos homenageiam os respectivos conquistadores: Horace Walker e Edward Whymper. A face norte (francesa) do Grandes Jorasses, junto com as do Eiger e do Matterhorn, ambos na Suíça, formam a Trilogia, isto é, as três grandes "faces nortes" dos Alpes, assim consideradas pela dificuldade técnica, dimensão das paredes e condições climáticas (a face norte, no hemisfério norte, é a que menos recebe radiação solar).