Tour du Mont Blanc - Paulo Miranda

TOUR DU MONT-BLANC França-Itália-Suíça setembro.2015

TOUR DU MONT-BLANC França-Itália-Suíça set.2015

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Planejamento

A primeira vez que o meu caminho e o da Tour du Mont Blanc (TMB) se cruzaram foi nas páginas da edição comemorativa dos 50 anos da revista BERGE comprada na Alemanha em 2000, cuja matéria principal fala sobre o pico mais alto de cada continente. Na capa, como não poderia deixar de ser, destaca-se uma belíssima foto do Everest. Quanto à matéria sobre a TMB, o título - "Gipfel des Bergwanderns", algo como "ápice das caminhadas em montanhas" - não poderia ser mais apropriado pois o Monte Branco e seu entorno, pela importância na história do montanhismo, é sagrado para os amantes das montanhas.

Mas, ao fim e ao cabo, lá se foram 15 anos [!!!] até que eu voltasse a pensar seriamente em conhecer, de fato, a TMB; com direito a uma tentativa frustrada em 2008. Reviravoltas da vida, pois...

Pela internet, encontrei muitas empresas que oferecem dois tipos de serviços: as caminhadas guiadas, com guia, transporte da bagagem entre um refúgio e outro e reservas nos mesmos; ou autoguiadas, isto é, para aqueles que querem ir por conta própria mas com todas as comodidades do tipo anterior, exceto o guia, acrescido de material impresso - os routecards - com direções, dicas, detalhes do caminho etc.

Como eu queria ir por conta própria, precisei ir além nas pesquisas; e uma das primeiras informações que encontrei era sobre o guia Tour of Mont Blanc (Kev Reynolds, Cicerone). Além daquelas informações básicas sobre clima, melhor época, como chegar, história etc, esse livro descreve a trilha nos sentidos horário e anti-horário (inclusive com as variantes) e divide ambos os roteiros em 11 etapas, que é o prazo médio necessário para percorrer a TMB sem pressa. Para cada etapa são apresentadas as distâncias total e parciais (isto é, entre pontos da trilha), duração, altitudes, ganhos e perdas de altitude, acomodações disponíveis, opções de transporte para/da civilização etc etc e etc.

A opção de guia em francês é o TopoGuide FFRandonnée - Tour du Mont-Blanc, publicado pela Fédération Française de la Randonnée Pédestre (FFRandonnée). Além de oferecer todas as informações necessárias para o caminhante, como altitudes, tempos de caminhadas, abrigos etc, descreve, detalhadamente, toda a trilha no sentido anti-horário (o mais tradicional) a partir de Les Houches. Além disso, cada trecho da trilha descrito é reproduzido em partes de cartas topográficas na escala 1:25.000.

Eu levei os dois e, pessoalmente, preferi o francês por ser mais conciso, direto e sem blá-blá-blá. Como não falo francês mas alguma coisa dá pra entender, a solução foi ler todo o livro com um dicionário do lado e fazer um glossário de cada palavra desconhecida. Funcionou!

Em termos de mapas, há as cartas topográficas Chamonix-Mont-Blanc (3630 OT) e Saint-Gervais-les-Bains (3531 ET), publicadas pelo Institut Geographique National (IGN), com todo o trajeto da TMB e mais o entorno. Não deixe de levá-las.

Quanto à logística, a TMB tem uma grande vantagem: há vários refúgios de montanha ao longo de toda a trilha, que, além de oferecerem meia-pensão (cama, banho, café da manhã e jantar), ainda vendem lanche para a caminhada (conhecido como pic-nic). Com tudo isso, elimina-se a necessidade de levar comida em excesso e todo o material de acampamento. A única ressalva é que os abrigos não têm roupa de cama, fora os cobertores ou edredons; por isso, e por uma questão de higiene, é obrigatório levar - ou alugar - uma espécie de saco de dormir sem enchimento. O meu foi feito a partir de um lençol de casal velho dobrado ao meio e costurado na lateral: perfeito, simples e sem gastar um tostão. Além disso, como a trilha passa por algumas pequenas cidades ou vilas - como, por exemplo, Les Contamines-Montjoie, Courmayeur, La Fouly, Champex etc - o caminhante ainda pode se dar ao luxo de passar algumas noites com um pouco mais de conforto.

Uma questão a ser levada em consideração quanto aos refúgios é o mês da caminhada: o período ideal, isto é, sem neve, vai do final de junho à primeira quinzena de setembro. O pico das férias europeias são os meses de julho e agosto, quando se tem a impressão de que tudo que é europeu sai de férias. Vários refúgios com quem entrei em contato reforçava a importância de fazer a reserva com antecedência para os meses do verão. Como decidi fazer a trilha em setembro - portanto, já fora da alta estação -, não me preocupei com esse detalhe. Porém, depois da dificuldade de achar vaga em alguns refúgios na Itália e na Suíça, recomendo que o caminhante, à medida que se avança na trilha, faça reserva com uns dois dias de antecedência. Alguns refúgios e restaurantes, mediante pagamento, ligaram pra mim e fizeram a reserva. Em outras situações, precisei usar o celular. Nesse caso, a dica de economia é comprar um cartão telefônico na Europa: eu comprei o meu em Chamonix. Informe-se sobre ativação de uso em outro país.

Um bom site para se obter informações sobre hospedagem, condições da trilha, meteorologia, mapas e relatos de caminhada, é o multi-linguístico Au Tour du Mont-Blanc, cuja página sobre acomodações disponibiliza tudo sobre cada abrigo/hotel/pousada ao longo da TMB: formas de contato, período de funcionamento, lotação, preços, possibilidade ou não de acampamento em torno do mesmo...